Bispos do Reginal N2 da CNBB participantes do Sínodo
O SÍNODO PARA A AMAZÔNIA: UMA GRAÇA DE DEUS PARA A IGREJA
O SÍNODO PARA A AMAZÔNIA: UMA GRAÇA DE DEUS PARA A IGREJA
Dom
Frei Wilmar Santin, O.Carm.
Bispo
da Prelazia de Itaituba e Padre Sinodal
O Papa Francisco convocou o Sínodo Especial da
Amazônia para encontrar “novos caminhos para a Igreja” e para “uma ecologia
integral”.
A preparação para o Sínodo começou com a escuta de pessoas
“de
diferentes cidades e culturas, assim como de numerosos grupos de outros setores
eclesiais e as contribuições acadêmicas e organizações da sociedade civil nos
temas centrais específicos”[1] dos 09 países da Pan-Amazônia.
Um
Instrumentum Laboris (Instrumento de
Trabalho) foi elaborado em cima das respostas dadas por mais de 87.000 pessoas. Por isso
algumas sugestões ou expressões causaram críticas e ataques ao Sínodo e ao Papa.
O Papa disse que Instrumentum Laboris era “um texto destinado a ser destruído”, mas que devia ser “ponto de partida para o que o Espírito iria fazer em nós”.[2]
O Papa solicitou para que os Padres Sinodais
mantivessem os olhos fixos em Jesus e se deixassem guiar pelo Espírito Santo.
Por isso, o Sínodo foi vivido num clima muito fraterno e de grande abertura e
liberdade.
O
Papa pediu que “na difusão que fizerdes do documento final vos detenhais sobretudo nos diagnósticos, que é a parte mais consistente, a parte onde o Sínodo realmente se expressou melhor: o diagnóstico cultural, o diagnóstico social, o diagnóstico pastoral e o diagnóstico ecológico”.[3]
A
elaboração dos diagnósticos, levou os Padres Sinodais a uma consciência da
necessidade de uma conversão integral. Esta seria: “uma conversão pessoal e comunitária que nos
compromete a nos relacionar harmoniosamente com a obra criadora de Deus, que é
a “casa comum”; uma conversão que promove a criação de estruturas em harmonia
com o cuidado da criação; uma conversão pastoral baseada na sinodalidade, que
reconheça a interação de tudo o que foi criado. Conversão que nos leve a ser
uma Igreja em saída que entre no coração de todos os povos amazônicos”.[4]
CONVERSÃO PASTORAL
Essa
conversão deve impulsionar a Igreja a sair de uma pastoral de manutenção e
conservação e se tornar uma Igreja em saída, missionária, “Samaritana” (ir ao
encontro de todos), “Madalena” (amada
e reconciliada para anunciar com alegria o Cristo ressuscitado), “Mariana” (geradora
de filhos para a fé e “inculturada”), misericordiosa e solidária; que promove o diálogo
ecumênico e cultural, que tenha preocupação com os indígenas, camponeses,
afrodescendente, migrantes e excluídos; que reconquiste os jovens e percorra novos
caminhos na pastoral urbana; que a “pastoral
da visita” seja substituída por uma “pastoral de presença”.
CONVERSÃO CULTURAL
A conversão cultural deve levar-nos a “fazer-se o outro, aprender do outro. Estar presentes, respeitar e
reconhecer seus valores, viver e praticar a inculturação e a interculturalidade
no anúncio da Boa Nova. ... Ela se encarna não só no trabalho pastoral, mas em
ações concretas para com o outro, nos cuidados de saúde, na educação, na
solidariedade e no apoio aos mais vulneráveis”.[5]
CONVERSÃO ECOLÓGICA
Desde
a Laudato Si’ a Igreja tem a
obrigação de se preocupar mais com a casa comum e defender de forma mais
empenhativa a Criação. Por isso, foi proposto “definir
o pecado ecológico como uma ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a
comunidade e o meio ambiente”.[6]
CONVERSÃO SINODAL
A conversão sinodal deve “fortalecer
uma cultura de diálogo, de escuta recíproca, de discernimento espiritual, de
consenso e comunhão para encontrar espaços e caminhos de decisão conjunta e
responder aos desafios pastorais. ... Não se pode ser Igreja sem reconhecer um
efetivo exercício do sensus fidei
de todo o Povo de Deus”.[7]
Os temas das ordenações de Viri Probati (homens provados) e diaconisas geraram muitas
controvérsias nos meios de comunicação antes e durante o Sínodo.
1)
A
POSSÍVEL ORDENAÇÃO DE HOMENS CASADOS (VIRI
PROBATI)
Antes
da realização do Sínodo, foi o tema mais polêmico. Houve acusações de que o
Sínodo queria acabar com o celibato e que seria herético se aprovasse a
ordenação presbiteral de homens casados. Esta proposta não é nova na Igreja. É
um tema recorrente. Por exemplo: houve proposta de se estudar a questão do celibato
no Concílio Vaticano II, mas não entrou na pauta das discussões porque São Paulo VI considerou inoportuna a ocasião. O
mesmo Papa tratou este tema e reforçou o celibato na sua encíclica
“Sacerdotalis caelibatus” (1967), mas admite a possibilidade da
ordenação de homens casados.[8] O tema voltou no Sínodo de 1971. Na ocasião, 87 dos 202 bispos votaram pela possibilidade do papa permitir que viri
probati fossem ordenados sacerdotes por razões pastorais. É bom
informar que a ordenação de homens casados já está aprovada pelo Magistério da Igreja (ver nota 8), mas para que tal aconteça o Papa deve dar uma permissão especial. E
isto tem acontecido. Já foi dada dispensa papal a clérigos anglicanos e a pastores protestantes, que aderiram à plenitude da comunhão católica, para serem ordenados sacerdotes na Igreja Católica.
O assunto retornou no Instrumentum laboris
como possível solução para os problemas da falta de clero na Amazônia e da
falta de Eucaristia num grande número de comunidades, que têm somente uma missa
por ano ou que só raramente recebem a visita de um padre. O Sínodo aprovou: “Considerando que a legítima diversidade não
prejudica a comunhão e a unidade da Igreja, mas a manifesta e serve (LG 13; OE
6) o que atesta a pluralidade dos ritos e disciplinas existentes, propomos
estabelecer critérios e disposições por parte da autoridade competente, no
âmbito da Lumen Gentium 26, para ordenar
sacerdotes a homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um
diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o
presbiterato, podendo ter uma família legitimamente constituída e estável, para
sustentar a vida da comunidade cristã mediante a pregação da Palavra e a
celebração dos Sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica”.[9]
2) ORDENAÇÃO DE DIACONISAS OU DIÁCONAS
Esta proposta também não é nova na Igreja. O próprio
Papa Francisco constituiu uma comissão para estudar o assunto. A base é a
afirmação do Apóstolo Paulo: “Recomendo-vos
nossa irmã Febe, diaconisa da Igreja em Cencréia” (Rm 16,1). A solicitação
para a ordenação de diaconisas ou diáconas apareceu no Instrumentum Laboris porque “Num grande número das consultas, foi solicitado o
diaconato permanente para as mulheres”.[10] Como não se tem clareza
sobre o que a diaconisa Febe fazia, nem se foi ordenada com imposição das mãos,
o Sínodo apenas manifestou o desejo de que a Comissão continue estudando a
assunto e que leve em consideração as experiências e reflexões do Sínodo.[11]
VIDA CONSAGRADA
As
Ordens e Congregações religiosas tiveram, desde o início, e têm no presente um
papel preponderante na Evangelização da Amazônia, mas estão perdendo terreno.
Por isso o Sínodo fez um apelo para que as Ordens e Congregações, que não têm
missões, façam fundações missionárias na Pan-Amazônia.[12]
Como
participante na condição de Padre Sinodal, tenho a firme convicção de que este
Sínodo foi um kairós (tempo de graça)
e trará bons frutos para a Igreja na Amazônia e no mundo.
[2]
Papa Francisco no Discurso de abertura do
Sínodo.
[8] “Em virtude da norma fundamental do
governo da Igreja católica, a que aludimos acima (n. 15), se, por um lado,
permanece firme a lei que exige a escolha livre e perpétua do celibato naqueles
que são admitidos às Ordens sacras, por outro, poderá admitir-se o estudo das
condições peculiares de sacerdotes casados, membros de Igrejas ou comunidades
cristãs ainda separadas da comunhão católica, os quais desejando aderir à
plenitude desta comunhão e nela exercer o sagrado ministério, forem admitidos
às funções sacerdotais. Mas há de ser de tal forma que não causem prejuízo à
disciplina vigente sobre o sagrado celibato” (Sacerdotalis caelibatus , 42).
[10]
Doc. Final 103.
[11] “Gostaríamos,
pois, de partilhar as nossas experiências e reflexões com a Comissão e aguardar
os seus resultados” (Doc. Final 103).
[12]
Doc. Final 40.
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