quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Quando um doce de abóbora é especial

 

Quando um doce de abóbora é especial

 

 

 


A vida é um livro que deve ser foleado página a página, sem que se consulte o índice” (Coelho Neto).


Uma das coisas mais encantadoras e prazerosas da vida é recordar as belas e edificantes experiências. Particularmente, me é apaixonante recordar os tempos de criança. Se olho para minha infância, vejo que fui muito feliz, apesar de todas as dificuldades que vida nos impôs.

Tive a graça de nascer numa família numerosa. Sim, considero este fato um privilégio e uma verdadeira graça de Deus. Éramos 9 filhos = 5 x 4 para os homens. Por uma fatalidade, o mais velho morreu num acidente automobilístico aos 28 anos. Portanto, há mais de 45 anos somos em 8, ou seja, 4 homens e 4 mulheres. 

Meu pai era marceneiro e carpinteiro. Órfão de mãe com um ano de idade e de pai aos 9 anos. Foi criado por uma virtuosa e santa madrasta. Desde pequeno teve que trabalhar. Foi um pai muito rígido com os filhos e amabilíssimo com os netos. Gostava muito de futebol e era palmeirense, portanto não negava sua origem italiana. Cresci indo com ele assistir jogos do Nova Londrina Esporte Clube. Ele por décadas fez parte da diretoria do time. Como católico praticante, exigia que os filhos participassem da missa dominicalmente. Por mais de 30 anos foi ministro extraordinário da Eucaristia. Despediu-se serenamente deste mundo aos 85 anos.

A minha mãe é uma guerreira, dotada de uma força e disposição incríveis. Além de se dedicar aos 9 filhos, encontrava tempo para costurar para fora e fazer permanente nos cabelos das mulheres para ajudar nas despesas da casa. Também foi empreendedora: teve bazar, mercearia e funerária. Era incansável em fazer, duas ou três vezes por semana, o pão caseiro mais gostoso da cidade pra alimentar a “renca” de filhos. Não nos deixava comer pão quente. Dizia que dava dor de barriga. Uma vez eu lhe disse que isso não era verdade, porque a gente comia arroz e feijão quentes e não dava dor de barriga. Ela ponderou que pão era massa. Na “tampa” retruquei: “Mãe, a gente come macarrão quente, que é massa, e não dá dor de barriga!” Ela me disse: “Ah, não sei! Você está perguntando demais, mas que comer pão quente dá dor de barriga, dá!”

Por muito tempo fiquei matutando esta convicção da minha mãe sobre o pão quente. Fiquei observando e pensando. Por fim cheguei à conclusão de que realmente comer pão quente dá dor de barriga, mas não porque o pão está quente e sim porque é muito gostoso, por isso a pessoa come muito além do normal, se empanturra e como consequência passa mal. Eu com 10 anos, se a mãe deixasse, eu comeria pelo menos dois pães inteiros, ou seja,  a quantidade de pão destinada para a família toda no café da manhã.

Nunca passamos fome, mas o dinheiro era escasso. Tempos de crise braba! A vontade de ir ao cinema para assistir aos famosos bangue-bangues do Velho Oeste era enorme. Como não recordar os filmes: “O dólar furado” com Giugliano Gemma? ou “Os três homens em conflito - O Bom, o Mau e o Feio” com Clint Eastwood, Lee van Cleef e Eli Wallach? Como esquecer os filmes do Zorro com o índio Tonto? e do Tarzan? do Gordo e Magro ou Mazzaropi? Os nossos heróis cinematográficos eram: Roy Rogers, Henry Fonda, John Wayne, Burt Lancaster, Kirk Douglas, ... Entretanto, o melhor de tudo era depois ir brincar de “mocinho”. Como éramos felizes com tão pouco!!!! Um cabo de vassoura colocado entre as pernas “virava” um cavalo, qualquer pequeno pedaço de pau podia virar um revólver! Todo mundo dava tiro à vontade, as balas nunca acabavam e ninguém morria: só matava! O grande escritor e orador Cícero diria: “O tempora! O mores” (Ó tempos! Ó costumes!) Eu, porém, digo “Ó tempos encantadores e experiências inesquecíveis!!!”

Ao repassar na memória aqueles tempos magníficos, os meus lábios começam a recitar espontaneamente o início da poesia “Meus oito anos”: 

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!

Os poetas românticos, como Casemiro de Abreu nesta poesia, foram geniais e se eternizaram. Basta mencionar Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo... para ter a confirmação da genialidade dos românticos. Por falar em poetas românticos, recordo que o Romantismo foi introduzido no Brasil por Gonçalves Magalhães, em 1836, com o livro "Suspiros poéticos e saudades".

É certo que o Romantismo brasileiro foi marcado por um certo exagero sentimental. Os românticos souberam despertar a emoção e a ação do leitor e da leitora ao idealizarem o amor e o saudosismo, ao valorizarem o nacionalismo e colocando em destaque a figura do índio como herói, quesito este em que o grande José de Alencar se sobressaiu com as obras: “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”. Até hoje o romantismo está presente com maior ou menor intensidade na cultura e mentalidade dos brasileiros.

Mas a realidade da infância não foi só de sonhos e alegrias: foi dura e às vezes também cruel! Que sentimento de frustração era o de ter vontade imensa de ir a cinema e não ter o dinheiro para a entrada. Que sensação horrível era “sentir as lombrigas assanhadas” ao ver doces e sorvetes, mas não poder comprá-los por falta do “baioque”, como dizia a mãe ao nos contar como o nono Foletto chamava a grana. A mãe nos colocou em sintonia com a tradição familiar contando as histórias de sua infância e das peripécias de seu pai e irmãos. Repetiu muitas vezes o que o nono dizia, em dialeto vêneto, quando os comerciantes queriam comprar fiado a sua produção de banha: “Vien il baioque e via la banha!" ou "Senza baioque prima, la banha non va!” (“Venha o dinheiro e vai a banha!" ou "Sem dinheiro primeiro, a banha não vai”). Só entregava a banha quando o dinheiro estava na sua mão. Certamente ele tinha sido enganado algumas vezes pra não confiar nos compradores. A vida é mestra e nos ensina!

Nós nos virávamos como podíamos pra arrumar alguns trocados. Íamos derriçar e colher café, à “panha” de algodão, carpir, escolher e separar grãos de café na cooperativa, engraxar sapatos, ... Nós catávamos mamona, deixávamos secar no pátio e depois recolhíamos grão por grão manualmente colocando-os numa lata de um litro. Quando a lata estava cheia, íamos vender no seu Severino Troian por um cruzeiro. Dava pra comprar um picolé. Ah! como eram deliciosos aqueles picolés! Quando a colheita era maior, dava pra comprar um ingresso para o cinema. Que felicidade!

Quantas vezes fiquei desejando comer os doces que eram vendidos no bar São João do Seu Vitório Zoletti, em frente de casa e não tinha nem um cruzeiro. Havia um doce de abóbora em forma de coração. Como era saboroso!

Lembro que eu sabia todas as orações rezadas por um católico, menos a Ave Maria. Rezávamos um terço do rosário todas as noites em família. Portanto, eu repetia 50 vezes esta oração diariamente e nada de decorar. Sabia rezar junto com os pais e irmãos, mas não conseguia rezar sozinho. Até hoje não sei qual era o porquê do bloqueio, mas não tinha jeito de aprender a principal oração dedicada à Mãe de Deus. Um dia meu pai me prometeu dar um cruzeiro se aprendesse de cor a principal oração dedicada à Virgem Maria. Ah! num instantinho aprendi. Cheguei e disse: 

- “Pai, o senhor me prometeu dar um cruzeiro se eu aprendesse de cor a Ave Maria e agora eu sei.” 

- “Eu prometi e eu cumpro o que prometo. Porém, reze primeiro pra eu ter a certeza de que você sabe tudo direitinho sem pular nada ou embaralhar”, contestou. 

Rezei sem me atrapalhar, ele me deu a nota de um cruzeiro, que tinha a imagem do Almirante Tamandaré, e eu todo feliz corri até o Bar São João comprar o saboroso doce de abóbora em forma de coração. Deu pra comprar dois! Que alegria! Que felicidade! É só eu recordar aquele momento tão especial, e logo me dá água na boca!

O tempo passou, crescemos e a vida se transformou. Os gostos mudaram, muitas coisas que “adorávamos” foram pouco a pouco ficando para trás. Passaram-se os anos e as novas atividades foram nos engolindo. É raro nos lembrarmos dos picolés, dos doces, dos mocinhos, dos filmes... Tudo isso deixou de ser uma necessidade para nós!

Quando voltei a morar em Paranavaí, já com mais de 32 anos, constantemente eu ia para Graciosa visitar os confrades do seminário. Nestas idas, algumas vezes visitava o Seu Manoel Jó. Ele era um nordestino do sertãozão da Paraíba com uma incrível sabedoria popular, adquirida no dia-a-dia com as experiências e dificuldades da vida. Conversar com o seu Manoel era para mim ocasião de prazer e de enriquecimento pessoal ouvindo as experiências e conhecimentos daquele sertanejo paraibano. Quase a vida toda ele trabalhou na roça, mas, quando as forças já não eram as mesmas, e a idade começava a pesar, ele comprou um bar para continuar ganhando o pão de cada dia.

Certa vez fui encontrá-lo no seu bar. Ficamos conversamos, dando risadas com seus causos e experiências. De repente olho para as prateleiras. Vejo potes transparentes de vidros cheios de doces. Fui vendo os potes com pirulitos, com balas de diversos tipos, com paçoquinhas, pés de moleque, ... e de repente meus olhos se fixaram extasiados no pote que continha os inigualáveis doces de abóbora formato de coração. Aflorou-me na memória os tempos de criança, fiquei com uma vontade imensa de comer aquela delícia feita de abóbora. Comentei que fazia uns 20 ou mais anos que não via o meu doce preferido em forma de coração. Claro que pedi um. Seu Manoel se levantou e foi buscar a “divina” iguaria. Não o comi: devorei-o! Foi tamanha a minha voracidade que o Seu Manoel pegou mais um e me deu. Num instantinho também desapareceu na minha boca.

Quando fui pagar os doces. Seu Manoel me disse:

- “Não vou cobrar não. Nunca vi alguém comer um doce de abóbora com tanto gosto como desta vez. Fiquei tão feliz que nem tenho coragem de cobrar”.

Ao repassar esses fatos da minha infância apareceu na minha memória o texto do Apóstolo Paulo: “11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. 12Agora nós vemos em espelho e de maneira confusa; mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13,11-12).

Não sou mais criança, mas tenho que reconhecer que, com meus 70 anos, aquelas experiências dos tempos de infância foram importantes para me ajudar a ser aquilo que sou hoje. Sou grato a Deus por ter me proporcionado uma infância tão feliz! Só recordo as coisas boas e edificantes, as ruins ou foram incorporadas na minha experiência me fortalecendo ou já as esqueci.

Concluo com as primeiras duas estrofes e a conclusão de uma das poesias publicadas por Gonçalves de Magalhães em Suspiros poéticos e saudades ao introduzir o movimento artístico cultural denominado Romantismo no Brasil em 1836.

A INFÂNCIA

Oh minha infância! Oh estação de flores!

De inocente ilusão alva saudosa!

Inda hoje te apresentas

Ante mim, como a imagem deleitosa

De um sonho que encantou-me a fantasia,

Ou como a aurora de um formoso dia.

Oh da infância atrativos lisonjeiros!

Mentirosos afetos!

Com que prazer amigos passageiros,

Inúmeros, na infância contraímos!

E quão fáceis após os repelimos,

De ligeiras palavras agastados.

...........

Oh quão perto a velhice está da infância!

E quão perto da infância a morte adeja!

 

Wilmar Santin

Itaituba, 15 de novembro de 2022.



ADENDO

 

De 2 a 10 de janeiro de 2023 fiz, no Mosteiro de Itaici (Indaiatuba, SP), o retiro anual para bispos. Um dos métodos para oração é ler um texto bíblico, depois imaginar a cena e se colocar dentro como participante. Eu normalmente não consigo entrar na cena, fico de fora assistindo como se fosse um filme. Partilhei com o orientador essa minha dificuldade. No meio da conversa contei a dificuldade que tive para aprender a Ave Maria e como foi removido este bloqueio. Ele me orientou para incluir na cena o menino feliz que gosta de doce de abóbora e que está dentro de mim. Foi tiro e queda: deu certo, consegui participar e não só assistir.

 

A primeira cena em que o doce de abóbora apareceu foi no episódio em que Jesus voltou para Nazaré e seu retorno a Cafarnaum (Lc 4,16-37). Consegui acompanhar Jesus e participar. Fui com ele visitar Nossa Senhora em Nazaré. Vi na cena ela dizendo pra Jesus: “Como eu sabia que você viria, preparei doce de abóbora que você tanto gosta”. Ali, junto com Jesus, saboreei o doce de abóbora feito pela própria mãe de Jesus.

Depois dos acontecimentos na sinagoga de Nazaré em que Jesus lê o texto de Isaías a respeito do Messias e diz: “Hoje se cumpre esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (v. 22). Seus amigos de infância e conhecidos se revoltaram e quiseram matar Jesus. “Mas Jesus passou no meio deles e seguiu seu caminho” (v. 30).

Jesus foi para Cafarnaum. Acompanhei Jesus nesta viagem. Mais ou menos na metade do caminho, paramos para um descanso. Ofereci para Jesus água e doce de abóbora, que sua mãe tinha me dado.

Senti que o menino tinha saído de mim e estava acompanhando Jesus. Nem é preciso dizer da minha alegria e felicidade por a oração ter fluído tão bem.

 

Outro texto rezado e meditado foi Lc 7,36-30 = Jesus perdoa a pecadora na casa do fariseu.

Jesus foi convidado para jantar na casa do fariseu Simão. Uma pecadora vai lá, chora aos pés de Jesus, enxuga com seus cabelos e passa perfume. Em seus pensamentos, o fariseu julga Jesus: “Se esse homem fosse um profeta, saberia quem é a mulher que está tocando nele: é uma pecadora” (v. 39). Jesus dá uma lição no fariseu e perdoa os pecados da mulher de maneira bem direta: “Teus pecados estão perdoados” (v. 48).

Consegui participar e não só assistir. O fariseu, quando viu que eu estava com Jesus, me convidou diretamente: “Wilmar, você também está convidado para o jantar. A sobremesa será doce de abóbora!” Pensei: se tem doce de abóbora eu tenho que ir de qualquer jeito. Fui e na hora da sobremesa, claro que o primeiro a ser servido seria Jesus, afinal ele era o convidado especial, mas, quando estavam trazendo a sobremesa, Jesus disse: “Primeiro deem para o Wilmar porque ele gosta demais de doce de abóbora”! Foi muito privilégio comer doce de abóbora antes de Jesus!!!!!!!!!


Mosteiro de Itaici (Indaiatuba, SP), 10 de janeiro de 2023.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Colete salva-vidas embaixo do seu assento

 

Avião ATR turbo-hélice


Colete salva-vidas embaixo do seu assento

 

 

Saí de Itaituba rumo a Manaus num avião turboélice ATR 42 da Passaredo, popularmente conhecida em alguns ambientes como “Passa-Medo”. O voo era para ter saído às 10h25, atrasou e saiu às 13:45. Atrasos ou cancelamentos de voo é marca registrada desta companhia aérea - pelo menos na Amazônia. As reclamações são constantes não só por atrasos como também por problemas nos aviões. Os cancelamentos de voos fazem parte da rotina, tanto é que desta vez foram cancelados 3 voos seguidos e o quarto estava atrasado. Por isso o povo tem medo de atraso, medo de cancelamento do voo e até mesmo medo de defeito no avião. Já aconteceu do avião ter que parar em Parintins para reparos.

Ao decolar comecei a repassar na memória os transtornos da manhã por causa do dito atraso. Não é que eu estava furioso ou com raiva, mas internamente estava lamentando o descaso da empresa com os passageiros. Até parece que seus diretores e executivos não sabem que é o cliente o principal patrimônio de qualquer empresa e que se esta os perder, vai à falência. A “Passa-Medo” não receia perder seus clientes porque não há concorrência na linha - por enquanto, por isso negligencia os passageiros causando-lhes tantos danos. Infelizmente as autoridades não têm tomado as devidas providências e assim, o povo sempre é prejudicado! Mas há um sinal de esperança: a Azul deverá ter uma linha Itaituba-Manaus a partir de dezembro deste ano.

Ao chegar ao aeroporto vi uma enorme fila para o check-in. Logo escutei que o voo estava atrasado, ou pior, que o avião ainda nem tinha saído de Manaus, - o que era o indicativo de um grande atraso ou que talvez fosse cancelado, como no dia anterior. Após fazer o check-in e por ter recebido a informação de que o voo seguramente seria só após o meio-dia, retornei para casa. Não iria ficar em torno de 3 horas no pequeno aeroporto em pé – os bancos disponíveis estavam todos ocupados - esperando a hora chegar, coçando o umbigo ou procurando buracos no ar.

Quando voltei ao aeroporto, recebi a informação de que havia atraso no atraso. Os funcionários diziam que o avião chegaria às 12h30. Depois era para chegar às 12h50. Dava dó de ver a cara dos funcionários, que são meus conhecidos e são gente boa. Eles não podiam fazer nada, a não ser tentar apaziguar alguns exaltados e dar esperança de que o avião iria chegar e que todos viajariam. 

Resolvi utilizar o aplicativo “Flightradar24”, que mostra voos com o horário da chegada, para ver se o avião já estava vindo na direção de Itaituba. Vi que de Manaus para Itaituba não havia qualquer sinal de que um avião estivesse voando neste trecho. Comecei a ficar um pouco apreensivo. Um funcionário me tranquilizou dizendo que era oficial: o avião pousaria às 13:06. Logo em seguida avisaram que a empresa iria fornecer almoço para os passageiros que aguardavam o voo. Era só ir ao bar-restaurante e solicitar. Eu fui e escolhi uma bisteca de porco.

Antes da bisteca chegar, começou o movimento de entrada para a sala de embarque. Fiquei na dúvida se iria embarcar com fome ou se iria saborear a bisteca suína. Havia passageiros que ainda estavam comendo ou esperando a comida ser servida.

Finalmente chegou a bisteca com macarrão-espaguete, arroz, purê de batata, uma saladinha e farinha de mandioca. A comida estava uma delícia, contudo, antes mesmo de terminar meu almoço, chegou o aviso para nos apressarmos, porque o embarque começaria em breve.

Para a alegria geral de todos, pouco antes da 13h30 teve início a entrada a bordo do avião. Como sou prioritário por lei, afinal já estou dentro dos 70, fui na primeira leva. A maioria deste grupo era de mulheres com crianças.

Um menino de uns 10 anos estava muito feliz, porque seria a primeira vez que iria viajar de avião. A mãe dele, uma simpática e sorridente venezuelana, estava com uma criança de colo. Ela fala muito bem o português, mas seu sotaque demonstra que sua língua materna é o espanhol. Estava com ela também uma senhora que parecia ser sua mãe ou sogra. Não escutei a mulher dizer uma palavra sequer. Por isso, como não perguntei, não pude saber se ela também é ou não venezuelana.

O embarque foi tranquilo. Sentei-me no assento 12A, ou seja, junto à janela. De repente bati o olho no pequeno aviso atrás do assento da frente: “Colete salva vidas (sic) embaixo do seu assento” e em inglês: “Life vest under your seat”. Tive um calafrio e me passou pela cabeça: “será que terei que usar esse colete, visto que a viagem está se realizando com tanto atraso e isto seja um mau presságio?” Como na hora de decolar, sempre rezo pedindo a proteção divina, me tranquilizei. Também tenho o costume  de rezar muitas vezes o "Santo anjo" durante as viagens. Mais uma razão pra não temer viajar. Mas diversas vezes meus olhos se dirigiram para o aviso. Aquilo ficou na minha cabeça tirando meu sossego e me inquietando.

Como eu estava junto à janela, fiquei embevecido apreciando a natureza, quando, de repente, o avião passou a voar acompanhando o rio Amazonas. Que espetáculo! A certa altura avistei a foz de um grande rio. Creio que era o rio Madeira. Havia uma imensa ilha recortada por inúmeros paranás. Vislumbrei também uma cidade na margem esquerda do rio Amazonas - pelo tamanho, penso que seja Itacoatiara. Assim fui me distraindo

Quanto mais alto voa um avião, menos turbulência há, visto que o ar vai perdendo a densidade na medida em que se sobe. Os aviões ATR turbo-hélice voam bem mais baixo que os grandes aviões a jato. Consequentemente estão sujeitos a turbulências mais intensas e algumas vezes balançam fortemente, assustando os passageiros. Nem me toquei que poderíamos enfrentar alguma turbulência.

Costumeiramente, durante as viagens dou umas cochiladas. Desta vez, enquanto cochilava, eis que o avião entrou numa grande turbulência e começou a tremer, chacoalhando violentamente. Parecia que iria cair! Houve até quem desse um grito. Abri os olhos e vi: “Colete salva vidas embaixo do seu assento”. Instintivamente levei a mão para o assento, para pegar o salva-vidas. Mas assim como a turbulência apareceu repentinamente, também como por encanto sumiu e nós continuamos a viagem sãos e salvos. E eu voltei a cochilar!

 

Wilmar Santin

 

Manaus, 12 de outubro de 2022.

 

 

 

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Dona Milu

 

Dona Milu e a rondonista Jeanine


Dona Milu

 

Uma das minhas experiências mais encantadoras e emocionantes foi ter atuado em operações do Projeto Rondon. Tive a felicidade de participar quatro vezes de operações nacionais. Já se passaram mais de 40 anos e recordo pessoas e fatos, que se tornaram indeléveis na minha memória. Ainda mantenho contato com alguns colegas rondonistas e com pessoas da querida Damianópolis, GO, onde estive três vezes. Aqui quero contar a história de uma pessoa que nunca vou esquecer.

O Projeto Rondon (PRo) foi uma ação do governo federal para atendimento da população carente no interior do país. De 1967 a 1989, o PRo levou estudantes universitários para fazerem trabalhos voluntários pelo Brasil afora. Começou atuando em Rondônia e depois se estendeu por toda a nossa pátria. Mais de 350 mil estudantes participaram de atividades promovidas pelo PRo. É inegável o grande bem que os universitários fizeram em cidades de população carente.

Fui três vezes para o interior de Goiás, a saber, nos anos 1977, 78 e 79, sempre no mês de janeiro. Por ter cursado Filosofia, trabalhei na área da educação. Atuei na “colônia de férias” com as crianças, em cursos para professores e em levantamentos estatísticos.

Como eu era seminarista e não havia padre no lugar, passei a celebrar cultos dominicais. Logo correu a notícia de que teria “missa” e que um dos rondonistas era padre. Ver a alegria e o entusiasmo daquele povo na igreja era algo contagiante, tanto é que alguns colegas, que há anos não entravam numa igreja, todo domingo participavam conosco nas orações.

Num domingo, após a celebração, apareceu, na pensão onde estávamos, uma senhora idosa conhecida como dona Milu. De estatura alta e magra, usando uma saia comprida até o meio da canela, rosto muito enrugado e na cabeça muitos cabelos brancos, era uma figura singular. Disseram-me que no tempo da seca era uma mulher normal e que fazia todos os serviços da casa, entretanto, no tempo da chuva ficava desorientada, “meio tantã”. Parodiando Machado de Assis, pode-se dizer que não “deitava-se com as galinhas, nem acordava com os galos”, porque passava a noite vagando, descalça, sob a chuva, pelas ruas da cidade. Ela foi até a pensão porque queria saber quem era o padre. A cozinheira, dona Bela, a levou para a sala e apontou pra mim dizendo: 

- “É ele!” 

Eu estava sentado num sofá, numa animada conversa com os colegas rondonistas sobre o convescote programado para o lagoão de uma fazenda, após o almoço. Dona Milu, pediu licença, sentou-se ao meu lado e me perguntou: 

- “É o senhor que é o padre?” 

Respondi que ainda não era padre, mas que estava estudando pra ser.

Ela insistiu: “Sim, o senhor é o padre! Eu escutei bater o sino. É sinal de que tem padre na cidade. A dona Bela me mostrou que é o senhor!”

Perguntei: “O que a senhora quer com o padre?”

- “Assunta só: eu quero que o senhor faça o casamento da minha neta”.

- “Não posso”, respondi.

- “Pode sim! O senhor é padre e pode fazer casamento!”.

- “Eu não sou padre! Estou estudando para ser padre!”

- “É sim, eu escutei bater o sino da igreja. O senhor vai ter que casar a minha neta.”

Não houve modo de convencer a dona Milu. Como eu tinha percebido que ela não estava “bem das ideias”, para deixá-la contente, marquei o casamento para o sábado seguinte. Assim, ganhei tempo para conversar com a família.

Todos os dias a dona Milu ia conversar comigo sobre o possível casamento. Ela esquecia que tinha sido marcado e desta forma, sem desprezá-la, remarquei o casamento várias vezes até viajar. Não cheguei a conversar com os familiares, mas recebi a informação de que o casalzinho de namorados não queria casar naquele momento, porém, estava querendo  “beber, gota a gota, a taça inteira da celeste felicidade”, como escreveu o maior literato brasileiro.

Numa linda noite de luar fui caçar jia (rã) com um rondonista e um rapaz da cidade chamado Donizete. Porém, enquanto caçávamos vimos aparecer relâmpagos no horizonte e pouco a pouco o céu foi se tornando escuro encobrindo a “rainha da noite”.  O jeito foi retornar pra casa para não tomar chuva. Ao chegarmos na praça, era quase meia-noite, encontramos a dona Milu. Estava descalça vagando solitária pela cidade. Paramos pra conversar com ela. Contamos que retornávamos da caçada de jia. Ela nos perguntou se tínhamos visto moché (sapo) e se eles estavam brabos, porque o tempo estava relampeando e iria chover. Eu disse que vimos vários e, para brincar, disse que eles estavam muito agitados e que tivemos que correr, porque um moché dos grandes veio saltando furioso em nossa direção. Ela arregalou os olhos mostrando medo e me perguntou:

- “Eles estavam bufando?”

- “Sim, inclusive  pulavam até um metro de altura”, respondi. 

- “Então vou já pra casa porque eles têm raiva de mim e saltam em cima de mim”. E rapidamente foi pra sua casa.

No ano seguinte, fui pela segunda vez àquela localidade com o PRo. Novamente encontrei a dona Milu. Sua neta tinha casado e estava para dar à luz. Chegou o dia da criança nascer, mas não nascia. A estudante de medicina, mais algumas rondonistas e também a parteira da cidade passaram a noite na expectativa de ver o nascimento da criança. Parto difícil, mas finalmente, no decorrer do dia chegou a notícia de que a criança tinha nascido e estava tudo bem. Tenho uma vaga lembrança de que era uma menina.

O tempo passou e, apesar de nunca mais haver encontrado a dona Milu, ela permanece nas minhas boas lembranças e jamais a esquecerei. Mesmo  estando um pouco fora do juízo, ela tinha consciência a respeito da importância do casamento da neta. Não queria ver a neta amancebada, por isso insistia que eu deveria fazer o casamento.

Como entrei nos 70 e tenho minha mãe com 95, termino citando o Papa Francisco: A velhice chega para todos. E assim como gostarias de ser tratado ou tratada no momento da velhice, trata tu os idosos hoje. Eles são a memória da família, a memória da humanidade, a memória do país. Preserva os idosos, que são sabedoria. O Senhor conceda aos idosos que fazem parte da Igreja a generosidade desta invocação e desta provocação. Que esta confiança no Senhor nos contagie. E isto, para o bem de todos, deles, de nós e dos nossos filhos” (Audiência Geral, 1ª/06/2022).

Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.

Bispo da Prelazia de Itaituba

Itaituba, 19 de outubro de 2022.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Pacto das Catacumbas pela Casa Comum



Pacto das Catacumbas pela Casa Comum


Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana.

Nós, participantes do Sínodo Pan-amazônico, partilhamos a alegria de habitar em meio a numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes, comunidades na periferia das cidades desse imenso território do Planeta. Com eles temos experimentado a força do Evangelho que atua nos pequenos. O encontro com esses povos nos interpela e nos convida a uma vida mais simples de partilha e gratuidade. Marcados pela escuta dos seus clamores e lágrimas, acolhemos de coração as palavras do Papa Francisco: “Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos” (1).

Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacumbas de Santa Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma Igreja servidora e pobre (2). Recordamos com veneração todos os mártires membros das comunidades eclesiais de base, de pastorais e movimentos populares; lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por defender a vida e lutar pela salvaguarda da nossa Casa Comum (3). À gratidão por seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem. É um sentimento de urgência que se impõe ante as agressões que hoje devastam o território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico predatório e consumista.

Diante da Trindade Santa, de nossas Igrejas particulares, das Igrejas da América Latina e do Caribe e daquelas que nos são solidárias na África, Ásia, Oceania, Europa e no norte do continente americano, aos pés dos apóstolos Pedro e Paulo e da multidão dos mártires de Roma, da América Latina e em especial da nossa Amazônia, em profunda comunhão com o sucessor de Pedro, invocamos o Espírito Santo, e nos comprometemos pessoal e comunitariamente com o que segue:

1. Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e da exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé. Dela vêm as dádivas das águas para grande parte do território sul-americano, a contribuição para o ciclo do carbono e regulação do clima global, uma incalculável biodiversidade e rica sociodiversidade para a humanidade e a Terra inteira.

2. Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas, formados do pó da terra (Gn 2,7-8) (4), hóspedes e peregrinos (1Pd 1,17b e 1Pd 2,11) (5), chamados a ser seus zelosos cuidadores e cuidadoras (Gn 1,26) (6). Para tanto, comprometemo-nos com uma economia integral, na qual tudo está interligado, o gênero humano e toda a criação porque a totalidade dos seres são filhas e filhos da terra e sobre eles paira o Espírito de Deus (Gn 1,2).

3. Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado: “De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco, aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra que convosco saíram da arca" (Gn 9, 9-10 e Gn 9,12-17) (7).

4. Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, em especial pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja. Ajudá-los a preservar suas terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades. Crescer na consciência de que estas devem ser respeitadas local e globalmente e, consequentemente favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, que sejam acolhidas em pé de igualdade no concerto mundial dos demais povos e culturas.

5. Abandonar, como decorrência, em nossas paróquias, dioceses e grupos de toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística num diálogo respeitoso com todas as tradições espirituais.

6. Denunciar todas as formas de violência e agressão à autonomia e direitos dos povos originários, à sua identidade, aos seus territórios e às suas formas de vida.

7. Anunciar a novidade libertadora do Evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente, como sucedeu com Pedro na casa de Cornélio: “Vós bem sabeis que a um judeu é proibido relacionar-se com um estrangeiro ou entrar em sua casa. Ora, Deus me mostrou que não se deve dizer que algum homem é profano ou impuro" (At 10,28) (8).

8. Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum.

9. Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal, onde representantes dos povos originários, missionários e missionárias, leigos e leigas, em razão do seu batismo, e em comunhão com seus pastores, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas, nos conselhos pastorais e paroquiais, enfim em tudo que lhes compete no governo das comunidades.

10. Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros da Palavra, valorizando em especial seu cuidado em relação aos mais vulneráveis e excluídos.

11. Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades. 

12. Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.

13. Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação (9).

14. Assumir diante da avalanche do consumismo um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público.

15. Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança.

Conscientes de nossas fragilidades, de nossa pobreza e pequenez diante de tão grandes e graves desafios, confiamo-nos à oração da Igreja. Que sobretudo nossas Comunidades Eclesiais nos socorram com sua intercessão, afeto no Senhor e, sempre que necessário, com a caridade da correção fraterna.

Acolhemos de coração aberto o convite do Cardeal Hummes para nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo e no retorno às nossas igrejas: “Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a autorreferencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa” (10).

Celebramos esta Eucaristia do Pacto como “um ato de amor cósmico. “Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo”. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico “a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador”. “Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira” (11).

Catacumbas de Santa Domitila 

Roma, 20 de outubro de 2019.


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(1) Homília do Papa Francisco na Missa de abertura do Sínodo, Roma 06-10-2019.

(2) Pacto por uma Igreja servidora e pobre. Catacumbas de Santa Domitila, Roma 16 de novembro de 1965. O Pacto assinado por 42 concelebrantes, recebeu em seguida a adesão de cerca de 500 padres conciliares. 

(3) DAp 98, 140, 275, 383, 396. 

(4) “7 Então o SENHOR Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e Ele tornou-se um ser vivente. 8 Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado”. 

(5) “... vivei no temor o tempo de vossa permanência como migrantes” (1 Pd 1, 17b) e “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros...” (1 Pd, 2, 11). 

(6) “26 Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine [cuide] sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão’. 27 Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou”.

(7) 12 E Deus disse: “Eis o sinal da aliança que estabeleço entre mim e vós e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações futuras. 13 Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre mim e a terra. 14 Quando eu cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris nas nuvens. 15 Então me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos, e as águas não se tornarão mais um dilúvio para destruir toda carne. 16 Quando o arco-íris estiver nas nuvens, eu o contemplarei como recordação da aliança eterna entre Deus e todas as espécies de seres vivos sobre a terra”. 17 Deus disse a Noé: “Este é o sinal da aliança que estabeleço entre mim e toda a carne sobre a terra”. 

(8) 34 Então, Pedro tomou a palavra: “De fato”, disse, “estou compreendendo que Deus não faz discriminação entre as pessoas. 35 Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença (At 10, 34-35). 

(9) Cfr DSD 302.1.3

(10) HUMMES, Card. Cláudio, 1ª. Congregação Geral do Sínodo Amazônico, Relação introdutória do Relator Geral, Roma, 07-10-2019 (BO 792).

(11)  Laudato Si’, 237.





quarta-feira, 12 de outubro de 2022

OS 10 MANDAMENTOS DA SERENIDADE – Papa São João XXIII

 


OS 10 MANDAMENTOS DA SERENIDADE

 

Papa São João XXIII

 

1. Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver os problemas da minha vida todos de uma vez.

 

2. Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros:

— delicado nas minhas maneiras

— não criticar ninguém

— não pretenderei melhorar ou disciplinar ninguém senão a mim.

 

3. Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste.

 

4. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias se adaptem todas aos meus desejos.

 

5. Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que assim como é preciso comer para sustentar meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma.

 

6. Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém.

 

7. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se for ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.

 

8. Só por hoje farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão.

 

9. Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim, mesmo se existisse só eu no mundo – ainda que as circunstâncias manifestem o contrário.

 

10. Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade..



sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Lave sua vidraça

 



 Lave sua vidraça!

 

Enquanto tomavam café, a mulher reparou através da janela em uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido: 

- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!

O marido observou calado.

Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou com o marido: 

- A vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!

E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia o mesmo discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.

Passado um tempo, a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos e empolgada foi dizer ao marido: 

- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, será que outra vizinha a ensinou?

O marido calmamente respondeu: 

- Não... Hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!

 

Moral: Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir, verifique seus próprios defeitos e limitações. Olhe antes de tudo, para sua própria casa, para dentro de você mesmo. 

Muitas vezes o problema pode estar de dentro pra fora!

Pense nisso  examine a si mesmo antes de julgar qualquer pessoa!

Lave sua vidraça!



sábado, 23 de abril de 2022

UMA BELA LIÇÃO DE VIDA DE UM EREMITA

 

Antão, Pai e Modelo de Eremitas

 

UMA BELA LIÇÃO DE VIDA DE UM EREMITA

 

"Um velho Eremita refugiou-se nas montanhas para se dedicar à meditação e à oração. Ele costumava ser visto como muito ocupado.

 

Um dia alguém lhe perguntou: 

Como você pode ter tanto trabalho, se mora sozinho??


Ele respondeu: "Eu tenho várias coisas a fazer:

- Treino dois falcões, 🦅🦅

- Treino duas águias,🦅🦅

- Acalmo dois coelhos 🐰🐰

- Disciplino uma cobra 🐍

- Motivo um burro 🐴

  e "domestico um leão".🦁

 

- Não vejo nenhum animal por aqui, onde eles estão?

 

O Eremita respondeu:

 

- Esses animais todos nós carregamos dentro si.

 

 Os dois falcões se jogam em tudo o que lhes é apresentado, bom ou ruim, tenho que treiná-los para se lançarem somente em coisas boas:

         Eles são meus OLHOS. 

 

As duas águias com suas garras machucam e destroem, tenho que treiná-las para colocarem-se a serviço e ajudarem sem causar danos:

         Elas são minhas MÃOS. 

 

Os coelhos costumam ir aonde querem, querem evitar situações difíceis, tenho que ensiná-los a ter calma, mesmo que haja sofrimento, problemas ou qualquer coisa que eu não goste:

          Eles são meus PÉS. 

 

A coisa mais difícil é observar a cobra, ela está trancada numa gaiola forte, muito forte, mas está sempre pronta para atacar, morder e colocar seu veneno em quem estiver por perto, então eu tenho que discipliná-la:

           É a minha LÍNGUA. 

 

Todo burro é teimoso, não quer cumprir seu dever, está sempre cansado e se recusa a carregar sua carga todos os dias:

           É o meu CORPO.

 

Finalmente eu preciso domesticar o leão, ele quer ser o rei, ele é altivo e sempre quer ser o primeiro, ele é vaidoso, orgulhoso, ele acha que é o melhor:

             É o meu EGO.

 

Como você pode ver, tenho muito trabalho a fazer."

 

Reflexão:

 

Peçamos a Deus que aproveitemos esses dias para dominar tudo o que carregamos em nós, para que possamos ser os melhores testemunhos, as melhores pessoas, os melhores cônjuges, os melhores filhos, os melhores irmãos, os melhores amigos, e acima de tudo, os melhores amigos de Deus.


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