quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Colete salva-vidas embaixo do seu assento

 

Avião ATR turbo-hélice


Colete salva-vidas embaixo do seu assento

 

 

Saí de Itaituba rumo a Manaus num avião turboélice ATR 42 da Passaredo, popularmente conhecida em alguns ambientes como “Passa-Medo”. O voo era para ter saído às 10h25, atrasou e saiu às 13:45. Atrasos ou cancelamentos de voo é marca registrada desta companhia aérea - pelo menos na Amazônia. As reclamações são constantes não só por atrasos como também por problemas nos aviões. Os cancelamentos de voos fazem parte da rotina, tanto é que desta vez foram cancelados 3 voos seguidos e o quarto estava atrasado. Por isso o povo tem medo de atraso, medo de cancelamento do voo e até mesmo medo de defeito no avião. Já aconteceu do avião ter que parar em Parintins para reparos.

Ao decolar comecei a repassar na memória os transtornos da manhã por causa do dito atraso. Não é que eu estava furioso ou com raiva, mas internamente estava lamentando o descaso da empresa com os passageiros. Até parece que seus diretores e executivos não sabem que é o cliente o principal patrimônio de qualquer empresa e que se esta os perder, vai à falência. A “Passa-Medo” não receia perder seus clientes porque não há concorrência na linha - por enquanto, por isso negligencia os passageiros causando-lhes tantos danos. Infelizmente as autoridades não têm tomado as devidas providências e assim, o povo sempre é prejudicado! Mas há um sinal de esperança: a Azul deverá ter uma linha Itaituba-Manaus a partir de dezembro deste ano.

Ao chegar ao aeroporto vi uma enorme fila para o check-in. Logo escutei que o voo estava atrasado, ou pior, que o avião ainda nem tinha saído de Manaus, - o que era o indicativo de um grande atraso ou que talvez fosse cancelado, como no dia anterior. Após fazer o check-in e por ter recebido a informação de que o voo seguramente seria só após o meio-dia, retornei para casa. Não iria ficar em torno de 3 horas no pequeno aeroporto em pé – os bancos disponíveis estavam todos ocupados - esperando a hora chegar, coçando o umbigo ou procurando buracos no ar.

Quando voltei ao aeroporto, recebi a informação de que havia atraso no atraso. Os funcionários diziam que o avião chegaria às 12h30. Depois era para chegar às 12h50. Dava dó de ver a cara dos funcionários, que são meus conhecidos e são gente boa. Eles não podiam fazer nada, a não ser tentar apaziguar alguns exaltados e dar esperança de que o avião iria chegar e que todos viajariam. 

Resolvi utilizar o aplicativo “Flightradar24”, que mostra voos com o horário da chegada, para ver se o avião já estava vindo na direção de Itaituba. Vi que de Manaus para Itaituba não havia qualquer sinal de que um avião estivesse voando neste trecho. Comecei a ficar um pouco apreensivo. Um funcionário me tranquilizou dizendo que era oficial: o avião pousaria às 13:06. Logo em seguida avisaram que a empresa iria fornecer almoço para os passageiros que aguardavam o voo. Era só ir ao bar-restaurante e solicitar. Eu fui e escolhi uma bisteca de porco.

Antes da bisteca chegar, começou o movimento de entrada para a sala de embarque. Fiquei na dúvida se iria embarcar com fome ou se iria saborear a bisteca suína. Havia passageiros que ainda estavam comendo ou esperando a comida ser servida.

Finalmente chegou a bisteca com macarrão-espaguete, arroz, purê de batata, uma saladinha e farinha de mandioca. A comida estava uma delícia, contudo, antes mesmo de terminar meu almoço, chegou o aviso para nos apressarmos, porque o embarque começaria em breve.

Para a alegria geral de todos, pouco antes da 13h30 teve início a entrada a bordo do avião. Como sou prioritário por lei, afinal já estou dentro dos 70, fui na primeira leva. A maioria deste grupo era de mulheres com crianças.

Um menino de uns 10 anos estava muito feliz, porque seria a primeira vez que iria viajar de avião. A mãe dele, uma simpática e sorridente venezuelana, estava com uma criança de colo. Ela fala muito bem o português, mas seu sotaque demonstra que sua língua materna é o espanhol. Estava com ela também uma senhora que parecia ser sua mãe ou sogra. Não escutei a mulher dizer uma palavra sequer. Por isso, como não perguntei, não pude saber se ela também é ou não venezuelana.

O embarque foi tranquilo. Sentei-me no assento 12A, ou seja, junto à janela. De repente bati o olho no pequeno aviso atrás do assento da frente: “Colete salva vidas (sic) embaixo do seu assento” e em inglês: “Life vest under your seat”. Tive um calafrio e me passou pela cabeça: “será que terei que usar esse colete, visto que a viagem está se realizando com tanto atraso e isto seja um mau presságio?” Como na hora de decolar, sempre rezo pedindo a proteção divina, me tranquilizei. Também tenho o costume  de rezar muitas vezes o "Santo anjo" durante as viagens. Mais uma razão pra não temer viajar. Mas diversas vezes meus olhos se dirigiram para o aviso. Aquilo ficou na minha cabeça tirando meu sossego e me inquietando.

Como eu estava junto à janela, fiquei embevecido apreciando a natureza, quando, de repente, o avião passou a voar acompanhando o rio Amazonas. Que espetáculo! A certa altura avistei a foz de um grande rio. Creio que era o rio Madeira. Havia uma imensa ilha recortada por inúmeros paranás. Vislumbrei também uma cidade na margem esquerda do rio Amazonas - pelo tamanho, penso que seja Itacoatiara. Assim fui me distraindo

Quanto mais alto voa um avião, menos turbulência há, visto que o ar vai perdendo a densidade na medida em que se sobe. Os aviões ATR turbo-hélice voam bem mais baixo que os grandes aviões a jato. Consequentemente estão sujeitos a turbulências mais intensas e algumas vezes balançam fortemente, assustando os passageiros. Nem me toquei que poderíamos enfrentar alguma turbulência.

Costumeiramente, durante as viagens dou umas cochiladas. Desta vez, enquanto cochilava, eis que o avião entrou numa grande turbulência e começou a tremer, chacoalhando violentamente. Parecia que iria cair! Houve até quem desse um grito. Abri os olhos e vi: “Colete salva vidas embaixo do seu assento”. Instintivamente levei a mão para o assento, para pegar o salva-vidas. Mas assim como a turbulência apareceu repentinamente, também como por encanto sumiu e nós continuamos a viagem sãos e salvos. E eu voltei a cochilar!

 

Wilmar Santin

 

Manaus, 12 de outubro de 2022.

 

 

 

10 comentários:

  1. É Frei Wilmar Santin, meu amigo, ainda bem q o " Todo Poderoso" te ouviu . Abços

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  2. Parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  3. Parabéns por ter superado , abraço
    Volte ao cochilo rs

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  4. Graças a DEUS que deu tudo certo 🙏

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  5. Linda crônica, parabéns!

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  6. Gostei da bela crônica!

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  7. Querido Dom Wilmar!!!
    Eu já fi uso dessa companhia “passa medo” rsrs, sei perfeitamente como é … rsrs
    Que Nossa Mãe Maria e os anjos, sempre possam te proteger e abençoar!! Um abraço.

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  8. Fico aqui imaginando e sentindo até falta de ar rsrs tenho pavor sempre que viajo de avião. Não me sinto muito segura nas alturas rsrs ainda bem que temos um Deus maravilhoso que cuida de nós 🤩 vc! pediu e ELE cuidou de sua viagem. Glória a Deus e parabéns pela crônica 👏👏👏👏

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  9. Bom dia! Parabéns! Deus te proteja! Avante sigamos na mesma direção.

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