Homilia de Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.
Peregrinação Internacional Aniversária
Amados Peregrinos e Peregrinas,
O evangelho de hoje (Lc
8,19-21) nos traz o episódio em que a Mãe e os irmãos de Jesus foram até onde
Ele estava e queriam vê-Lo. Aqui convém explicar que a expressão “irmãos de
Jesus”, de acordo com a herança patriarcal de Israel, não significava só os irmãos
de sangue e sim também os parentes mais próximos, como os primos. O uso da
expressão nesta perícope deve ser entendida à luz da reacção de Jesus e do
sentido que Ele dá sobre quem é sua mãe, seus irmãos e irmãs. Na tradição
cristã a expressão deste evangelho sempre foi entendida concretamente como
sendo os parentes próximos e nunca como possíveis irmãos de sangue, filhos de
Maria.
À primeira vista, a reacção
de Jesus foi muito estranha. Por exemplo: Ele não foi ao encontro de sua
Mãe para abraçá-la e demonstrar todo o amor e carinho que Ele tinha por Ela,
como nós faríamos.
O evangelista Marcos descreve
a reacção de Jesus um pouco mais detalhada: “Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e
disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é
meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,34-35).
Jesus com suas palavras não
tinha intenção de negar os vínculos de parentesco natural nem desprezar sua
mãe, mas alargar o sentido de pertença à Sua família! Para Jesus, o critério
para pertencer à família Dele deixa de ser o sanguíneo e passa a ser o
espiritual, ou seja, "fazer a vontade de Deus". Para Jesus o que vai definir o
verdadeiro sentido de família é a escuta e a prática da Palavra de Deus.
Portanto, é a palavra de Deus
que cria uma nova família ao redor de Jesus: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a
põem em prática." Como consequência, Maria se tornou duplamente "mãe": primeiro porque gerou Jesus e segundo porque mais do que ninguém ela soube escutar a Palavra e fazer sempre a
vontade de Deus.
Para Jesus, a
escuta e a prática da Palavra de Deus devem criar laços familiares mais fortes
do que os laços de sangue. E assim, o escutar a Palavra e o pôr em prática esta
Palavra produzem o efeito de nos tornar mãe, irmãos e irmãs de Jesus.
Como devotos de Nossa Senhora de
Fátima, devemos ter a Mãe de Deus como modelo de vida. Se olharmos a vida de
Maria, constataremos que primeiro ela escutou a Palavra e, depois, se tornou a
Mãe do Senhor (cf. Lc 1,43). A mesma coisa pode acontecer com cada um de nós
hoje, se acolhermos a Palavra que nos é dirigida. Jesus quer crescer no mundo e
o principal caminho para este crescimento somos todos nós. Ele quer crescer em
nós, como cresceu em São Paulo a tal ponto do grande Apóstolo poder afirmar:
“Eu vivo, mas não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Se acolhermos a sua Palavra, se a
contemplarmos e a conservarmos em nosso coração, se lhe dermos espaço, se
procurarmos sempre recordá-la, se ela se tornar a luz dos nossos passos, Jesus
crescerá em nós, à nossa volta e no mundo.
Maria é o principal modelo de como se
deve escutar e acolher a Palavra de Deus na vida. Para nos dispormos
interiormente com proveito na escuta e acolhimento da Palavra, devemos estar em
atitude constante de conversão e de oração, como está bem claro na mensagem de Fátima.
“Rezai,
rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores” é o pedido feito por Nossa Senhora, em sua
aparição aqui em Fátima no dia 19 de Agosto de 1917. Por isso a nossa vida deve
se tornar uma oração contínua. Neste contexto, a oração do Rosário deve ter um
lugar privilegiado, visto que Ela, em todas as aparições, recomendou rezar o
Rosário (terço). Inclusive na última aparição Ela apresentou-se como a Senhora
do Rosário e insistiu: “continuem sempre
a rezar o terço todos os dias”.
Quero destacar outro aspecto
importante da oração tendo como exemplo a própria Mãe de Jesus. A inspiração
vem da 1ª leitura (Act 1,6-14) de hoje: a oração em comunidade. O
autor dos Actos dos Apóstolos narra que a comunidade primitiva rezava unida: “Todos
eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres – entre elas,
Maria, mãe de Jesus – e com os irmãos dele”. (Act 1,14). O autor sagrado
fez questão de frisar que todos
perseveravam na oração em comum
e cita explicitamente a presença de Maria,
mãe de Jesus, entre eles.
Isto quer dizer que, como devotos de Nossa Senhora, devemos imitá-la, além da
escuta da Palavra, também na oração em comum. Não podemos ficar numa oração
individualista, mas a nossa oração deve nos comprometer com a comunidade e com
a Igreja.
O Papa Bento XVI, comentando esta
passagem dos Actos, diz:
“Venerar
a Mãe de Jesus na Igreja significa aprender dela a ser comunidade que reza.
Muitas vezes, a oração é determinada por situações de dificuldade, por
problemas pessoais que nos levam a dirigir-nos ao Senhor para receber luz,
consolação e ajuda. Maria convida a abrir as dimensões da oração, a dirigir-nos
a Deus não só na necessidade, nem só para nós mesmos, mas de modo unânime,
perseverante e fiel, com «um só coração e uma só alma» (cf. Act 4, 32) (Audiência Geral - 14 de Março de 2012).
Nós somos
chamados à santidade, e para darmos uma resposta positiva a Deus é necessário
agir. Para agirmos correctamente, a liturgia de hoje e a mensagem de Fátima nos
ensinam que devemos estar sempre a escutar a Palavra de Deus, pôr em prática
esta Palavra, rezar sem cessar e ter uma atitude de conversão permanente.
Que esta
Peregrinação seja para todos uma experiência inesquecível para que cada um
possa permanentemente dar uma resposta positiva ao chamado à santidade. Que a
Virgem de Fátima proteja a todos e fortifique-os na fé, na esperança e na
caridade. Ámen.
+ Wilmar Santin, O.Carm.
Bispo da Prelazia de Itaituba, Pará - Brasil
Muito linda essa omitia nos ajuda muito a refletir sobre nossos atos ! E saber que Nossa Senhora está sempre atenta a todas as nossas necessidades !!! Amo muito minha mãezinha 🙏🏻🙏🏻🙏🏻🌹🌹
ResponderExcluirMaria, Mãe e Mestra da Escuta e da Prática da Palavra de Deus, Modelo da Igreja Orante, ensina teu povo a rezar!
ResponderExcluirMuito obrigado, Dom Frei Wilmar.