Eu estava lá na Praça São Pedro no anúncio da eleição de Bento XVI!
Sim eu estava lá na “Piazza San Pietro” no momento da fumaça branca e
do anúncio da eleição do Papa Bento XVI. Foi uma das emoções mais fortes da
minha vida!
Depois de ter ido ao meio-dia ao Vaticano e ter voltado um pouco
frustrado por causa da “fumaça preta”, me programei voltar às 19h quando,
segundo os jornais, sairia novamente a fumaça preta ou branca. Mas como a rádio
Vaticana estava sempre repetindo que se o novo Papa fosse eleito já na primeira
votação, seria anunciado pelas 17h30, pensei: não posso perder este momento
histórico e por isso, mesmo que eu tenha que ficar das 17h até as 20h ou mais,
vou para praça já. Falei com outros padres e fomos à “Piazza San Pietro”.
Quando chegamos, em torno das 17h, havia relativamente poucas pessoas na praça.
Parecia que o povo não esperava que antes das 19h fosse anunciado o novo Papa.
Meus colegas quiseram se posicionar antes do obelisco. Como vi uma
bandeira brasileira bem de fronte à basílica, fui em sua direção para
fotografá-la. Frei Pedro Bravo, um padre carmelita português, me acompanhou.
Tirei várias fotografias e de repente vi sair fumaça do chaminé. Tive a certeza
absoluta de que já havia sido eleito o novo Papa. Mas havia dúvidas porque a
fumaça não era totalmente branca (nem podia ser, porque sempre é um pouco cinza
pelo menos). Além disso o sino não batia, como tinha sido anunciado como um dos
sinais da eleição. Eu não quis nem saber: soltei a criança que está dentro de
mim e comecei a pular e gritar: “È bianca! È bianca! È bianca!” (É branca!).
Nisto um repórter de uma TV portuguesa se aproximou e começou a falar em inglês
perguntando se nós estávamos realmente convencidos de que era fumaça branca.
Frei Pedro reconheceu pelo logotipo que era uma TV portuguesa e
começou a falar em português com o repórter. Ele confirmou que era português. Pediu-nos
para que ficássemos perto dele para dar entrevista sobre o novo Papa, quando
fosse anunciado quem seria. A fumaça continuava a sair e nada dos sinos
badalarem. Quando começou a fumaça era mais ou menos às 17h50. Às 18h escutamos
uma badalada do sino. Foi uma gritaria de arrepiar na praça. Logo em seguida
viu-se que era a badalada normal das 6h da tarde. Foi uma risada só. Mais ou menos
18h05 o sino da Basílica começou a se mexeu. Gritei para o rapaz que tinha a
câmara da TV: “o sino está se mexendo! Focalize o sino! Temos um novo Papa”.
Ele não sabia para onde direcionar a câmara. Apontando na direção do sino, gritei: “Lá! Lá!” Ele se virou e
começou a tomar imagens do sino que ainda não badalava mas tomava impulso.
Quando começou a badalar, foi uma alegria contagiante na praça. Gritos: “habemus Papam”. Não me aguentei e novamente comecei
a pular e gritar. O que nunca tinha feito em minha vida, estava fazendo! Comecei
a sentir “um nó” na garganta e uma vontade imensa de chorar de alegria. Ao meu
lado, as pessoas também vibravam e gritavam. Só quem estava ali pode entender a
minha emoção e alegria. Eu nunca tinha sentido algo igual. Agora que escrevo e
revivo as emoções, só posso agradecer a Deus por tamanha graça!
Depois havia a expectativa: quem é o novo Papa? Foram longos minutos de
espera. Quando apareceu o cardeal designado para anunciar quem era o novo Papa,
nova gritaria e emoção na praça. Mas antes disto muita gente correu até a praça
São Pedro, que ficou superlotada bem como a via della Conciliazione. Não sei,
mas devia haver mais de 400 mil pessoas no final e muito mais gente chegou
depois. O cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estévez
pelo microfone falou: «Annuntio vobis gaudium
magnum; habemus Papam: Emminentissimum ac Reverendissimum Dominum Josephum,
Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger, qui sibi nomen imposuit Benedictus
XVI» («Anuncio-vos uma grande alegria, temos Papa: o Eminentíssimo e
Reverendíssimo Senhor José, Cardeal da Santa Romana Igreja Ratzinger, o qual se
deu o nome Bento XVI»). Novamente uma gritaria total. Foi emocionante a
aparição do novo Papa no balcão em frente da Basílica. O povo gritava: “Benedetto!
Benedetto! Benedetto!”. Não tive dúvidas: também gritei o nome do novo Papa o
mais alto que eu podia. Quando o novo Papa começou a falar, novamente aplausos
e gritos emocionados tomaram conta da praça. Sua mensagem foi curta: “Queridos irmãos e irmãs: Depois
do grande Papa João Paulo II, os senhores cardeais elegeram a mim, um simples
humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o fato de que o Senhor sabe
trabalhar e atuar com instrumentos insuficientes e, sobretudo, confio nas
vossas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiados em sua ajuda
permanente, sigamos adiante. O Senhor nos ajudará. Maria, sua santíssima Mãe,
está do nosso lado. Obrigado.” No final a
esperada bênção do Papa «Urbi et Orbi» (para Roma e para o mundo). Arrepiei-me
da cabeça aos pés e me comovi todo, porque era a primeira vez que recebia a
bênção «Urbi et Orbi» ali ao vivo na Praça São Pedro.
A TV portuguesa me perguntou: “por que você
acha que o Papa escolheu o nome: Bento XVI”. Respondi: “penso que ele quer recordar
São Bento, o fundador dos monges beneditinos, que levaram o evangelho a várias
partes da Europa, inclusive para a Alemanha, lançando as bases do cristianismo no
coração de vários povos. Mas também talvez porque quer recordar o Papa Bento
XV, que governou a Igreja nos difíceis anos de 1914 a 1922, ou seja, durante a
Primeira Grande Guerra mundial e os anos sucessivos. Ele era não era bem visto
por ser considerado um modernista. Mas demonstrou ser um homem preparado para
conduzir a Igreja. Talvez ele queira demonstrar que o “clichê” de conservador
imposto a ele não tem razão de ser. Uma coisa é ser Prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé e outra é ser Papa”. Não sei se isto é o motivo pelo qual
ele escolheu o nome de Bento XVI, porém esta é a minha primeira impressão.
A eleição de Bento XVI pode gerar
inquietações por causa da imagem do cardeal Ratzinger cultivada negativamente
em alguns ambientes eclesiásticos e setores da imprensa. Como eu não tenho
dúvidas de que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo, tenho a firme
convicção de que a eleição de Bento XVI é providencial e trará grandes
benefícios tanto para a Igreja e como para o mundo.
O dia 19 de abril de 2005 é um dia que jamais
esquecerei!
Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.
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